Caio Júnior assumiu o comando técnico do Grêmio ainda em dezembro de
2011 sucedendo Celso Roth e falando de passado e futuro: do início da
carreira de jogador nas divisões de base do clube até os planos
ambiciosos para o time, de futebol igualmente competitivo e vistoso,
tendo o Barcelona como referência, não modelo.
A favor, a identificação com o tricolor, os sólidos conceitos táticos
e as perspectivas de um estilo mais moderno na Azenha. Contra, as
ressalvas de sempre quando o nome do técnico é mencionado: o perfil
“intelectual”, menos “boleiro” e a fama de perder gradativamente o
comando do grupo que prejudica seus times na reta final dos campeonatos
no país. Foi assim com Palmeiras em 2007, Flamengo em 2008 e Botafogo no
ano passado.
Na curta pré-temporada, Caio Júnior não armou a equipe como o time
catalão. O 4-4-2, na prática, tinha como referência o que Falcão tentou
implementar no Internacional antes de perder o comando no vestiário e
Roberto Mancini aplica no Manchester City: duas linhas de quatro na
recomposição e praticamente um quadrado nas ações ofensivas, com os
meias centralizando e abrindo espaços para o apoio dos laterais.
Douglas, em tese, executaria a função do espanhol David Silva no time
inglês, saindo da direita em diagonal para armar pelo meio.
A derrota logo na estreia para o Lajeadense por 2 a 0 no Olímpico
e as críticas por ter mandado a campo um time muito “faceiro” fizeram o
treinador mudar os planos e testar outros desenhos táticos, abandonando
as convicções dos períodos de treinamento em nome de uma proposta mais
adequada à cultura local, baseada em solidez defensiva e vigor físico.
Alternou o 4-4-2 com meio-campo em losango e o 3-4-1-2 com Gabriel na ala direita e Mario Fernandes na zaga nos 3 a 1 sobre o Canoas. O sistema com três zagueiros foi mantido contra o Juventude em Caxias, mas o revés por 2 a 1 e a saída de Douglas fizeram o treinador voltar às duas linhas de quatro na vitória por 1 a 0 sobre o São Luiz com a entrada de Leandro em busca da velocidade desejada.
Nos 2 a 2 contra os reservas do arquirrival no Gre-nal, Caio Júnior voltou ao losango. Na virada sofrida sobre o Ypiranga por 2 a 1, início com duas linhas de quatro e 4-3-1-2 ainda no primeiro tempo, com Gilberto Silva entrando na vaga de Leandro. Nos 4 a 1 sobre o Santa Cruz, o tricolor gaúcho atuou praticamente em um 4-2-2-2 e no revés para o São José em grama sintética por 2 a 1, o retorno ao losango no primeiro tempo e o 4-3-3 desesperado na etapa final.
Em todas as oito partidas da primeira fase da Taça Piratini (1º turno
do Gauchão), o desempenho foi tão hesitante quanto o treinador na busca
da formação ideal. Ainda que os testes fossem compreensíveis em um
início de trabalho, era nítido o conflito entre as ideias de Caio Júnior
e o futebol cada vez mais pragmático e focado no resultado e menos
insinuante do Grêmio. Nem venceu, muito menos convenceu. Acabou sem
emprego com pouco mais de um mês e meio de trabalho efetivo.
Na melancólica “despedida” do treinador, nem o calor sufocante e as
dificuldades de adaptação ao gramado justificam a atuação pífia de uma
equipe frágil na marcação e que dependeu unicamente da inspiração de
Kléber, que precisava ser articulador e atacante, e das jogadas aéreas
com bola parada ou rolando.
Marco Antonio, ex-Portuguesa, não vingou como meia de ligação nem
aberto pela esquerda. As lesões de Mario Fernandes e Júlio César
prejudicaram o trabalho pelas laterais, o zagueiro Naldo ainda precisa
de entrosamento e a ausência de Fernando, substituído por Gilberto
Silva, provoca uma queda brusca na dinâmica do meio-campo que já tem
problemas com a lentidão de Marquinhos. Marcelo Moreno se entende melhor
com Kléber e é mais jogador que André Lima, porém peca pela
irregularidade.
Mesmo com todos os problemas, a busca de reforços aprovados por Caio Júnior
para, enfim, armar o time no 4-4-2 em linha – Souza e Facundo Bertoglio
confirmados e Cristian Rodríguez em negociação, além do zagueiro
Burdisso do Arsenal de Sarandí – sugeria um trabalho mais paciente, com a
diretoria pensando a médio e longo prazo, com planejamento.
No entanto, os resultados negativos, a proximidade de um Gre-nal
decisivo pelas quartas-de-final do torneio regional e, provavelmente, a
pressa de aproveitar a disponibilidade de Vanderlei Luxemburgo no
mercado de treinadores pesaram. Mas era o caso de demitir antes da
estreia na Copa do Brasil, competição que realmente importa para o clube
no primeiro semestre? Se não confiava desde o início, por que o
investimento? Mais uma vez, o imediatismo superou o projeto.
Caio Júnior pode se queixar do tratamento um tanto preconceituoso de
jornalistas, torcedores, jogadores e dirigentes que torcem o nariz para o
seu jeito mais polido e solícito, sem gritos e socos na mesa ou piadas
simplórias. Mas também precisa abandonar o discurso sempre se colocando
como vítima e refletir sobre o que planeja na teoria e não consegue
aplicar no contato diário com seus comandados.
No Grêmio, a impressão foi de que o técnico quis agradar a todos e
não conquistou o respeito de ninguém numa história breve e repleta de
equívocos.
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