Se algum colorado sentar na arquibancada do Beira-Rio vestindo a
camiseta azul da Argentina ninguém reagirá. Pelo contrário. É bem
possível que ele receba tapinhas nas costas. Por que o Inter, vermelho
até a medula, se rendeu ao azul celeste dos argentinos. Virou embaixada
hermana em Porto Alegre.
Neste domingo contra o Caxias, o meio-campo só não será em espanhol
porque Dátolo ficará de fora — a legislação limita a três o número de
estrangeiros por clube. Com o quarteto, o Inter virou o clube mais
hermano do Brasil.
Há uma República Argentina no Beira-Rio. O cordobés Pablo Horácio
Guiñazu, aliás, é o presidente. D’Alessandro até pode ser o
primeiro-ministro, o que comanda em campo. Mas a cadeira de presidente é
de Guiñazu. Por mérito. É o volante quem cuida dos assados e prepara o
mate com erva importada do Uruguai.
— O "churraco" é com o
Guiña. Ele é quem assa e cuida de tudo — entrega Bolatti, fazendo coro
ao que já havia revelado D’Alessandro.
Guiñazu caminha para sua quinta temporada no Inter. Trocou a grelha
da parrilla pelos espetos do churrasco. D’Ale revela que a carne sai da
melhor qualidade. É Guina também quem ceva o mate no Beira-Rio e nas
viagens. Está sempre com a mateira a tiracolo. Na ida para Manizales, a
cuia alouçada branca rodou pelas mãos do volante, de Bolatti e de
D’Alessandro na viagem de 16 horas.
— Uso espeto, fenômeno. Sou que asso. E o mate também é comigo. Faço
tudo, o Bolatti é que não faz nada — brinca Guiñazu, antes de soltar uma
sonora gargalhada.
Guiña e Bolatti são os típicos cordobeses, famosos na Argentina por
fazer piada de tudo o tempo todo. Bolatti, embora mais tímido, é um
sujeito divertido, de riso fácil. Solteiro, o volante mora sozinho no
bairro Higienópolis. Na sexta-feira, saiu apressado do Beira-Rio para
buscar os pais no Aeroporto Salgado Filho. Na ausência deles, Guiñazu é o
grande parceiro. Quando a agenda permite, os dois disputam renhidos
jogos de tênis no condomínio de Guiñazu. Que também é o de D’Alessandro,
no Três Figueiras.
O sucesso e a adaptação de D’Ale e Guiñazu viraram referência para
quem chegou depois. Em 2010, havia Pato Abbondanzieri. No ano passado,
vieram Cavenaghi e Bolatti. Cavenaghi e D’Ale são amigos desde guri, da
base do River Plate, e vizinhos no condomínio no Tigre, vizinho a Buenos
Aires. Bolatti havia jogado com D’Ale na seleção. Antes de vir da
Fiorentina, ligou para o meia. Ouviu as melhores referências e assinou
na hora.
O mesmo se passou agora com Dátolo. O meia havia atuado na seleção
com Bolatti. Já sabia do sucesso dos compatriotas a uma hora e meia de
voo de Buenos Aires. Trocou sem pestanejar as margens do Mediterrâneo
pelas margens do Guaíba.
— Foi importantíssimo encontrar três grandes companheiros aqui. O
Cabeção, o Guiña e o Mário são trabalhadores, grandes pessoas. Eles me
fazem sentir em casa — revela Dátolo, a última importação hermana.
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